quinta-feira, 6 de maio de 2010

Torcer por torcer, eis a questão !



Os eventos desta semana me fizeram refletir um pouco mais sobre o mundo futebolístico e suas aplicações.
Acompanhando o desempenho dos dois principais times de futebol do Estado de Minas Gerais, acabei por fazer uma reflexão sobre a principal motivação que leva um torcedor a insistir em torcer para um clube que nunca (ou quase isto) lhe traz alegria.
Antes de começar minha reflexão, saibam que eu não torço para nenhum dos dois times o que me dá certa imparcialidade acerca das analises a serem feitas.

Nesta semana o Clube Atlético Mineiro (Galo) foi consagrado campeão mineiro de futebol. Hoje em plena quarta-feira ele acaba de ser desclassificado pelo Santos na Copa do Brasil enquanto o Cruzeiro passa mais uma etapa na Copa Libertadores da América vencendo o Nacional do Uruguai.

Já não é de hoje que fico de olho no comportamento dos torcedores do Galo. Eu sempre fiquei muito instigado em compreender porque tanto fanatismo acerca de um clube tão inexpressivo no cenário nacional e internacional. Em um momento Steven Levitt resolvi fazer um levantamento dos títulos obtidos por ambos clubes à partir de 1990. O que pretendia ao definir esta data era perceber como os grupos de influência são capazes de provocar decisões completamente irracionais quando o assunto é a escolha de um time à torçer.
O que quero dizer é simples: A geração que nasceu de 1929 à 1979 teve a oportunidade de vivenciar diversas conquistas por parte do Clube Atlético Mineiro.

Não bastassem as conquistas no inicio dos campeonatos, o principal rival do Galo era o America. Enquanto o Cruzeiro enfrentava sua crise existencial napolitana, o America se consagrava Deca-Campeão Mineiro e o restante dos títulos ficavam, praticamente todos, com o Galo.
Mediante este cenário, era de se esperar que as maiores torcidas travavam uma guerra verde e negra apazigua pelo branco.


De lá pra cá o Cruzeiro foi se consolidando como um grande clube de Minas Gerais e o cenário do futebol mineiro começou a mudar, o que culminaria em uma grande reviravolta na década de 90.
Pra quem nasceu à partir de 1980, o futebol mineiro já não era mais o mesmo e isto ficaria veemente quando este garoto(a) da era musical do pop rock estivesse próximo de completar uma década de existência.
Em 1990 os antigos torcedores do America já não tinham tanta força para perpetuar a prole do único e provavelmente insuperável Deca-Campeão mineiro. Enquanto o tradicional time mineiro via sua torcida envelhecer com o tempo, o Cruzeiro e Atlético acumulavam mais e mais seguidores.
Bem, até 1989 era factível que tivéssemos muitos torcedores de ambos os times, pois até então as disputas estaduais eram constantemente concentradas neste clássico futebolístico.
À partir daí é que a razão dá espaço à emoção e começamos a vivenciar uma verdadeira panacéia esportiva de uma massa fanática e com poucos motivos para tal. O fundamentalismo da bola passara a ter nome, sobrenome e a cacarejar alto.

Se você acha que este é um texto destinado a denegrir a imagem do Galo, engano seu. Antes de tirar suas conclusões fundamentalistas, vejamos o que dizem os números.
Fazendo uma breve retrospectiva de 1990 até 2010 percebemos claramente como as coisas mudaram nestas últimas décadas e como é difícil entender porque hoje, uma pessoa de 30 anos ainda insiste em sofrer por um clube que poucas alegrias lhe deu ao longo da vida.
Abaixo temos todos os títulos conquistados pelo Galo deste 1990.


Parece incrível, mas o time só conquistou 8 títulos em 21 anos. Considerando o fanatismo da torcida, é algo realmente surpreendente. Apesar de ser um clube tradicional, já não é de hoje que o Galo perdeu sua importância no terreiro. Pra quem nasceu em 1980, o clube não lhe proporcionou nada além de desgostos. Antes de analisar este desempenho com outros clubes mineiros menos expressivos, façamos o mesmo com o time rival:


Não há divida que a pouca representatividade internacional alcançada pelo futebol mineiro se dá em grande parte pelo desempenho da Raposa em campeonatos expressivos. Fora isto, agora fica fácil entender porque a torcida do clube cresceu tanto ao passo que outras torcidas, como a do America, vêm diminuindo proporcionalmente o numero de adeptos. A era do America passou e com ela uma nova geração de torcedores encontrou no Galo ou no Cruzeiro a chance de ser mais feliz nos fins de semana. Até onde reza a lenda, o futebol é entretenimento e não sofrimento. Seguindo o mesmo raciocínio, seria plausível pensar que a torcida do Galo vem tendo dificuldades em manter o mesmo volume da massa ao longo destas ultimas 3 décadas.
Se o raciocínio é lógico, a prática é antagônica à razão. É impressionante notar como os grupos de influência tem papel fundamental na perpetuação e manutenção da massa atleticana. O que antes era motivo de orgulho, agora se torna um fardo a ser carregado. A criança já nasce e recebe um uniforme de um time que no passado já fez jus ao apelido de glorioso mas que nos últimos 21 anos se equipara a clubes bem menos significativos. Veja agora o desempenho de um outro clube mineiro:


Ao analisarmos o desempenho do Ipatinga, podemos de imediato, tirar duas conclusões. O Ipatinga tem praticamente o mesmo numero de títulos do Galo. Fora isto, se analisarmos apenas os últimos 10 anos, o clube deu mais alegrias aos torcedores do que o Galo.
Então porque insistir em passar os fins de semana no vazio? Talvez esta seja a principal razão para afirmar categoricamente que futebol não se discute.