sexta-feira, 27 de julho de 2007

A religiosidade da gorjeta

Sábado à noite, aniversário de uma grande amiga em um bar badalado da cidade.
Não se trata de um bar da moda, e sim, de um bar freqüentado por pessoas que dizem ser a melhor opção da noite para quem curte este tipo de local. Local novo, aberto a menos de um ano e já oferecendo o que o cliente quiser comer, seja pizza, sushi, carnes, batata, mandioca e demais tira-gostos.
“Grande estratégia” da cozinha, ainda mais se a casa estiver lotada. O custo com aquisição e manutenção do freezer, fogões, chapas etc. agradece, ainda mais se a rotatividade do estoque é completamente irregular em relação ao tipo de comida solicitada pelo consumidor. Mas deixemos de lado a sabedoria do gestor e passemos para o prato, ou melhor, assunto principal.

Peço um whisky, e para minha surpresa, ainda mais em um bar que é a sensação do momento, o benchmark dos bares noturnos, o garçom traz na bandeja um copo longo, com várias pedras de gelo e um líquido amarelado parecido com whisky.
Ao beber eu me certifico que é mesmo whisky.

Vocês notaram algum problema?
Além do copo não ser o comumente usado para servir whisky, o garçom não serviu o mesmo na minha frente. Que era whisky eu não tenho dúvida, mas se era importado ou nacional, 8, 12 ou 16 anos eu não saberia responder.
Vou pagar por algo que não sei exatamente o que é.
Tudo bem que em alguns bares eles reutilizam as garrafas com bebidas mais baratas, não fazendo diferença no caso de servir na frente do cliente, mas aí já é uma questão de desvio de conduta, repugnante inclusive. Vai ver o garçom não agiu de má fé, mas francamente, faltou um treinamento ou até mesmo bom senso para perceber que este detalhe faz toda a diferença, ainda mais em um bar “caro” e de público seletivo.

Mas é um aniversário, dia de festejo, e eu resolvi não me manifestar sobre o assunto.
Apenas tomei a bebida, única da noite, fingindo que nada havia acontecido.

Minutos mais tarde e é hora de solicitar os serviços da cozinha.
Que tal uma porção de picanha?Seria ótimo se o garçom não tentasse explicar que, o que ele jurava ser picanha na verdade era alcatra.
A famosa picanha de 1,5 quilos que nunca existiu e nem vai existir.
Para quem entende de carne sabe que a picanha raramente excede 1 kg, geralmente pesa em torno de 800 gramas.
Mas pra cima de mim não!
Aproveitar-se do desconhecimento do consumidor para tirar proveito da situação é lamentável e inadmissível.

O tempo vai passando, a casa continua cheia, e o garçom nos tratando como se estivesse fazendo um favor ao qual não queria fazer.
Pedidos trocados, pedidos que jamais chegaram em nossa mesa, dentre outras manifestações de atendimento nota 10:

10estimulante;
10cepcionante.

Outros garçons também chegaram a nos atender, no mesmo nível que este.
E olha que a casa possui uma média de 1 garçom a cada 5 mesas, uma média muito boa para manter a qualidade no atendimento.
Não se trata, portanto, de um excesso de clientes e falta de garçons.
O mais incrível é que éramos aproximadamente 15 pessoas em uma mesa que no fim da noite teria uma conta no valor de 500 reais.
Algo razoável e carente de um bom atendimento.

Mas a noite chega ao fim e é hora de pedir a conta.

O garçom traz a conta e pagamos de acordo com o que a lei nos obriga.
Obviamente o garçom recolhe o pagamento e após alguns minutos volta com este juntamente com a conta alegando que não haveria troco.
Na verdade nós é que estávamos devendo ao bar, pois havíamos pagado apenas o primeiro valor e não havíamos considerado os 10% ilegais de gorjeta.

De forma extremamente educada, o que pelo visto não fez a menor diferença, alegamos que havíamos optado em não pagar a taxa de serviço.
Optamos desta forma, não pela cobrança ser ilícita, mas porque havíamos tido um tratamento que nos motivou a optar em não pagar a “gorjeta”.

Como todos sabemos a taxa não é obrigatória, porém não argumentamos isto com o garçom para não gerar um clima desagradável. Apenas dizemos que a cobrança estava correta por parte do bar e quitada por parte do cliente.

Foi então que ele deferiu a seguinte frase:
Mas eu trabalhei até agora para vocês!

Pasmem, mas o garçom nos colocou em uma situação a qual tivemos a nítida sensação de que ele não devia receber salário. Ele estava reclamando que trabalhou a noite toda em prol de nossa mesa e não estava recebendo nada por isto. Se ele está insatisfeito com o salário dele, é um problema a ser tratado com o dono do estabelecimento e não com o cliente. Ele ganha mal e a culpa é nossa.

A tal cobrança de 10% pelo serviço é surreal, beira o imaginário dos amantes de Salvador Dali. A verdadeira taxa Pink Floyd do ramo alimentício e de entretenimento. Em algumas igrejas, a contribuição dos fieis é imposta de forma a constranger o mesmo a doar tal quantia. Cria-se uma atmosfera em que aqueles que não doam sequer uma moeda, são vistos como a escória do Universo. Os inimigos dos Homens de Preto (MIB).
Nos bares e restaurantes esta prática tem se tornado comum. Os garçons colocam o cliente em uma situação na qual o mesmo fica sem graça de não pagar os ilícitos 10% de comissão sobre um serviço que na verdade o garçom já recebe em forma de ordenado. Se a taxa é pelo serviço do garçom, então não haveria motivos para se pagar salário ao mesmo. Ele ganha salário para fazer o que?

Voltei para casa com a certeza de que o bar não agüentaria se manter por muito tempo com um atendimento tão ruim e com garçons que discutem com o cliente. Atualmente tive a notícia de que o bar do momento já não é mais do momento.

Porque será?

Um comentário:

  1. Muito boa essa crítica, eu realmente não pensava dessa forma e resolvi repensar algumas coisas sobre os 10% que eu sempre fiz questão de pagar mesmo depois d não ser tão bem atendida. Seu blog tá mto bom e o melhor é q tem um toque CHRISTIAN pesado em todos os textos. Adorei. Bjus

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